Santo do Dia

São Cláudio La Colombiere
São Cláudio La Colombiere

São Cláudio La Colombière: Apóstolo do Sagrado Coração

São Cláudio La Colombière é uma das figuras centrais na consolidação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Nascido no sul da França, em 1641, ele teve uma trajetória marcante dentro da Companhia de Jesus, sendo confessor da mística Santa Margarida Maria Alacoque e um dos principais propagadores dessa devoção. Sua vida foi repleta de desafios, desde a rigidez do noviciado jesuíta até as perseguições religiosas na Inglaterra, onde foi preso por suspeita de conspiração. A canonização tardia, em 1992, apenas reforçou a importância de seu legado.

Juventude e vocação religiosa

Filho de uma família abastada, Cláudio teve acesso a uma educação refinada e cresceu em um ambiente religioso. Entre seus seis irmãos, três seguiram a vida sacerdotal, o que reflete a forte influência da em sua família. Ele estudou em um colégio jesuíta e, aos 17 anos, ingressou na Companhia de Jesus.

Embora fosse dotado de grande inteligência e espiritualidade, ele enfrentou dificuldades no início da vida religiosa. Como noviço, confessou ter uma “terrível aversão” à disciplina rigorosa imposta pela ordem. No entanto, seu talento natural e sua determinação fizeram com que ele se destacasse. Para superar suas dificuldades, fez um voto pessoal de obedecer estritamente às regras da Companhia de Jesus.

A amizade como expressão da espiritualidade

Diferente de uma visão ascética extrema, São Cláudio valorizava profundamente a amizade como parte de sua jornada espiritual. Ele escreveu:

“Meu Jesus, tenho certeza de ser amado. Por mais miserável que eu seja, não me tirará de vossa amizade nenhum indivíduo mais nobre que eu, nem mais culto ou mais santo.”

Após 16 anos de vida religiosa, ele refletiu sobre a relação entre a simplicidade divina e os laços humanos:

“Senti-me inclinado a imitar a simplicidade de Deus nos seus afetos, amando só a Deus, mas meus amigos têm-me a amizade, e eu tenho a amizade deles. Hoje, o sacrifício de deixar meus amigos custa mais do que o primeiro que fiz deixando pai e mãe.”

Essa perspectiva revela uma espiritualidade equilibrada, onde o amor humano e o amor divino não se anulam, mas se complementam.

Confessor de Santa Margarida Maria Alacoque

Em 1675, Cláudio foi designado para ser o confessor da comunidade da Visitação em Paray-le-Monial. Foi lá que conheceu Santa Margarida Maria Alacoque, uma religiosa que afirmava ter recebido revelações diretas de Cristo sobre a necessidade de divulgar a devoção ao Sagrado Coração.

A princípio, a comunidade monástica reagiu com ceticismo. A Irmã Margarida, que já sofria com problemas de saúde, foi alvo de desprezo e rejeição. No entanto, São Cláudio acreditou firmemente em suas visões e tornou-se um defensor da devoção. Ele escreveu extensivamente sobre as revelações e ajudou a estruturar a prática que, posteriormente, se tornaria uma das mais difundidas dentro da Igreja Católica.

Segundo os relatos da santa, Jesus teria lhe dito:

“Eis o Coração que tanto amou os homens, que não poupou nada até esgotar-Se e consumir-Se, para manifestar-lhes seu amor. E como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, desprezos, irreverências, sacrilégios, friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor.”

Essas palavras foram decisivas para a expansão da devoção ao Sagrado Coração.

A primeira celebração da Festa do Sagrado Coração

Diante das dificuldades encontradas por Santa Margarida para difundir a nova devoção, ela recebeu de Cristo a orientação de procurar Padre Cláudio. Segundo a religiosa, Jesus lhe disse:

“Dirige-te a meu servo Cláudio e dize-lhe, de minha parte, que faça todo o possível para estabelecer essa devoção e dar esse gosto a meu Divino Coração. Que não desanime diante das dificuldades que encontrará, pois essas não faltarão, mas ele deve saber que é poderoso quem desconfia de si mesmo para confiar unicamente em Mim.”

Com essa missão, São Cláudio organizou a primeira celebração da Festa do Sagrado Coração de Jesus na primeira sexta-feira após a Oitava de Corpus Christi. Foi um evento de profunda significação espiritual, marcando o início oficial da devoção.

Perseguição na Inglaterra e sofrimento na prisão

Em 1676, Cláudio foi enviado à Inglaterra como pregador da duquesa de York, Maria de Módena. No entanto, sua missão foi interrompida por um clima de intensa perseguição religiosa.

Na época, os jesuítas eram vistos com extrema suspeita, especialmente após o falso complô inventado por Titus Oates, que acusou a ordem de conspirar contra o rei Carlos II. Como resultado, dezenas de inocentes foram executados, incluindo oito jesuítas. Padre Cláudio foi preso e mantido em um calabouço por semanas, onde sua saúde, já frágil, piorou significativamente.

Graças à intervenção diplomática da corte francesa, ele foi libertado e expulso da Inglaterra. Contudo, sua saúde nunca mais se recuperou plenamente.

Últimos anos e canonização

De volta à França, Cláudio passou seus últimos anos debilitado. Faleceu em 15 de fevereiro de 1682, aos 41 anos, vítima de uma hemorragia interna.

Sua canonização só ocorreu em 1992, quando o Papa João Paulo II o declarou santo e modelo de vida jesuíta. Durante a cerimônia, o pontífice destacou sua entrega total ao Sagrado Coração, afirmando que ele viveu “sempre abrasado de amor”.

Legado espiritual

São Cláudio La Colombière permanece uma figura central na espiritualidade católica, especialmente para aqueles que seguem a devoção ao Sagrado Coração. Sua vida é um testemunho da importância da amizade, da fidelidade e do sacrifício diante da adversidade.

Como ele próprio escreveu:

“Os planos de Deus nunca se realizam senão à custa de grandes sacrifícios.”

Referências bibliográficas

  • ALACOQUE, Margarida Maria. Autobiografia: Memórias Espirituais. Paulus, 2001.
  • DALY, Gabriel. The Jesuit Mind: The Mentality of an Elite in Early Modern France. Cambridge University Press, 1999.
  • O’CONNELL, Marvin. The Counter-Reformation, 1559–1610. Harper & Row, 1974.

• ORLANDIS, José. História Breve do Cristianismo. Quadrante, 2006.

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