A história de Zeferino Namuncurá transcende a mera biografia de um jovem aspirante ao sacerdócio; ela representa um encontro profundo entre culturas, espiritualidade e a busca por justiça social. Nascido em 26 de agosto de 1886, em Chimpay, às margens do rio Negro, Zeferino era filho de Manuel Namuncurá, o último grande cacique das tribos indígenas araucanas, e de Rosario Burgos, uma mulher de origem chilena. Seu nascimento ocorreu em um período de intensas transformações políticas e sociais na Argentina, marcadas pela Campanha do Deserto, que visava a integração forçada dos povos indígenas ao Estado argentino .
Educação e Encontro com os Salesianos
Aos 11 anos, Zeferino foi enviado por seu pai a Buenos Aires para estudar, com o objetivo de que pudesse defender seu povo no futuro. Inicialmente matriculado em uma escola estatal, logo foi transferido para o Colégio Salesiano de Buenos Aires, onde encontrou um ambiente familiar e acolhedor. Ali, desenvolveu uma profunda admiração por Dom Bosco e pela espiritualidade salesiana .
Crescimento Espiritual e Vocação Religiosa
No colégio, Zeferino destacou-se por sua piedade, caridade e dedicação aos deveres diários. Inspirado por São Domingos Sávio, desejava tornar-se sacerdote salesiano para evangelizar seu povo. Seu compromisso com a fé era evidente em gestos simples, como a maneira reverente com que fazia o sinal da cruz, influenciando positivamente seus colegas.
Estudos na Itália e Encontro com o Papa
Devido à saúde frágil, Zeferino foi levado à Itália em 1904 para continuar seus estudos em um clima mais adequado. Lá, conheceu o padre Miguel Rua e recebeu a bênção do Papa Pio X. Estudou em Turim e posteriormente no Colégio Salesiano de Villa Sora, em Frascati, onde se destacou academicamente, alcançando o segundo lugar na classe .
Doença e Morte
Infelizmente, Zeferino foi acometido por tuberculose, doença que não foi diagnosticada a tempo. Em 28 de março de 1905, foi internado no hospital Fatebenefratelli, na Ilha Tiberina, em Roma, onde faleceu pacificamente em 11 de maio do mesmo ano, aos 18 anos de idade. Suas últimas palavras refletiram sua profunda fé: “Bendito seja Deus e Maria Santíssima. Basta que eu possa salvar a minha, em todo o demais faça-se a vontade de Deus” .
Beatificação e Legado
Em 22 de junho de 1972, Zeferino foi declarado venerável pelo Papa Paulo VI. Posteriormente, em 11 de novembro de 2007, foi beatificado pelo Papa Bento XVI, tornando-se o primeiro indígena da América do Sul a ser beatificado. A cerimônia ocorreu em sua cidade natal, Chimpay, e contou com a presença de mais de 100 mil pessoas .
Seu legado perdura como símbolo de integração entre fé cristã e cultura indígena, inspirando jovens e comunidades a viverem a espiritualidade com autenticidade e compromisso social.