Nascido em 26 de outubro de 1828, na cidade de Turim, no coração do Piemonte italiano, Leonardo Murialdo foi desde cedo confrontado com as provações da vida. Órfão de pai aos cinco anos, cresceu em meio ao carinho da mãe, em uma família numerosa e profundamente cristã. A formação moral e espiritual que recebeu desde a infância, em um ambiente abastado mas sensível às dores sociais, foi decisiva para moldar seu caminho futuro. A Itália do século XIX — marcada por conflitos sociais, instabilidade política e um processo de unificação ainda em curso — seria o cenário no qual Leonardo deixaria sua marca indelével, especialmente por sua dedicação incansável à juventude marginalizada.
A juventude e o dilema vocacional
Com o apoio materno, Leonardo foi enviado a Savona para estudar no colégio dos padres Escolápios (Scolopi), ordem conhecida por seu zelo pela educação de crianças e adolescentes. Essa experiência, além de proporcionar sólida formação acadêmica e religiosa, foi também um período de intensa crise existencial. Na adolescência, Murialdo oscilou entre seguir a carreira militar, como oficial do rei Carlos Alberto, ou dedicar-se à engenharia. Essas opções refletiam os sonhos da juventude turinesa da época — marcada pela busca de estabilidade e ascensão social.
Contudo, uma inquietação mais profunda o movia: o sofrimento dos jovens pobres, órfãos e desamparados. Leonardo percebia que os mecanismos sociais e políticos de sua época pouco ou nada ofereciam àqueles que estavam à margem. Assim, não por resignação, mas por vocação, escolheu o caminho do sacerdócio. Queria oferecer mais que consolo espiritual: desejava abrir portas, criar oportunidades e reconstruir esperanças.
Formação teológica e início do ministério
A decisão amadurecida deu frutos rapidamente. Em 1850, formou-se doutor em teologia; no ano seguinte, foi ordenado sacerdote. Desde os primeiros anos de ministério, Leonardo se destacou pela dedicação à catequese infantil e à assistência aos meninos em situação de abandono. Fundou orfanatos e centros educativos nos arredores de Turim, consolidando uma prática pastoral que unia caridade cristã e compromisso social.
Mais do que um simples benfeitor, Murialdo era um pedagogo no sentido mais pleno da palavra. Via na formação religiosa e profissional dos jovens o caminho para a dignidade. Seu trabalho expressava um tipo de santidade ativa, enraizada no cotidiano e sustentada por uma espiritualidade encarnada na realidade.
Reitor, educador e defensor da juventude
Esse zelo não passou despercebido. Foi convidado a assumir o cargo de reitor do colégio dos jovens artesãos de Turim — missão que aceitou com entusiasmo evangélico. Ali, Leonardo implementou uma pedagogia inovadora para a época, centrada na valorização da pessoa, na disciplina familiar e no acompanhamento próximo e personalizado dos alunos.
O ambiente escolar passou a ser, nas palavras do próprio Murialdo, uma “família cristã”, onde jovens de oito a vinte e quatro anos podiam encontrar não apenas abrigo, mas também formação humana, técnica e espiritual. Ao lado de colaboradores leigos e religiosos, o sacerdote promoveu um modelo de educação que articulava moralidade, competência profissional e fé.
A formação técnica oferecida possibilitava que, ao final do ciclo, os jovens ingressassem no mercado de trabalho com qualificação e confiança. Era uma forma concreta de lutar contra a exclusão social e de encarnar a doutrina social da Igreja nascente, antecipando temas que viriam a ser aprofundados décadas depois por encíclicas como Rerum Novarum(1891), de Leão XIII.
Fundador da Congregação de São José
Diante do êxito da sua proposta educacional, começaram a surgir pedidos de outras regiões da Itália para a fundação de colégios semelhantes. Assim nasceu, em 1873, a Pia Sociedade de São José, também conhecida como Congregação de São José ou Josefinos de Murialdo. Inspirada na figura de São José, modelo de paternidade silenciosa e laboriosa, a congregação buscava prolongar no mundo o ministério educativo de seu fundador.
O carisma josefino rapidamente se expandiu, alcançando outros países da Europa e mais tarde o continente africano e as Américas. A pedagogia do amor, como era chamada, unia o rigor da formação com a ternura da presença. O jovem, para Murialdo, não era um problema a ser resolvido, mas uma promessa a ser cultivada.
Últimos anos e canonização
A intensa dedicação à missão educativa e o ritmo extenuante de trabalho cobraram um alto preço. Murialdo enfrentou repetidas crises de pneumonia que enfraqueceram seu organismo. No dia 30 de março de 1900, entregou sua alma a Deus, deixando um legado imenso não apenas à Igreja, mas à sociedade.
Reconhecendo sua santidade e relevância pastoral, o Papa Paulo VI o canonizou em 1970. A Igreja celebra sua memória no dia 18 de maio. Mais do que uma homenagem litúrgica, essa celebração convida os cristãos a redescobrir o valor da educação, do serviço à juventude e do engajamento social como expressões da fé autêntica.
Um santo para o nosso tempo
São Leonardo Murialdo continua a interpelar a consciência da Igreja e da sociedade. Num mundo que ainda marginaliza tantos jovens e nega oportunidades aos mais pobres, sua vida e obra permanecem atuais. Ele é exemplo de que a santidade não está separada do compromisso histórico. Ao contrário, ela se realiza plenamente quando se faz dom, quando se torna presença solidária e transformadora.
Oração a São Leonardo Murialdo:
“Jesus Cristo, nosso amigo, dai-nos a graça de, a exemplo de São Leonardo Murialdo, amarmos os jovens que precisam de uma experiência Contigo. Amém.”
São Leonardo Murialdo, rogai por nós!