Santo do Dia

Mártires Salesianos de Poznań: Fé Inquebrantável sob o Nazismo

No cenário desolador da Segunda Guerra Mundial, quando a Europa se via mergulhada em trevas morais e políticas sem precedentes, emergiram testemunhos silenciosos de esperança e resistência. Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha nazista, sob o comando de Adolf Hitler, invadiu a Polônia, iniciando um dos conflitos mais devastadores da história humana. Logo nos primeiros dias da ocupação, o regime totalitário impôs sua lógica de repressão e violência sobre os territórios dominados. No coração dessa resistência espiritual e moral, encontramos a casa salesiana da rua Wroniecka, em Poznań, um refúgio para a juventude católica em tempos de perseguição.

A casa, antes um centro de convivência e formação, foi ocupada e convertida pelos alemães em um depósito militar. Contudo, os jovens não desistiram de sua nem de seu espírito comunitário. Reuniam-se discretamente em bosques nos arredores da cidade, onde prosseguiam com suas atividades religiosas e educativas. Deste ambiente adverso, surgiram várias associações clandestinas, impulsionadas por uma fé viva e um ardente desejo de preservar os valores do Evangelho. Nesse contexto, cinco jovens salesianos poloneses destacaram-se por sua coragem, espiritualidade e martírio: Franciszek Kesy, Edward Klinik, Jarogniew Wojciechowski, Czesław Jóźwiak e Edward Kaźmierski.

Prisão e martírio

Em setembro de 1940, os cinco foram detidos pela Gestapo sob a acusação de pertencerem a uma organização ilegal. Levaram-nos à temível Fortaleza VII — uma prisão conhecida por suas práticas brutais — onde foram submetidos a interrogatórios e torturas psicológicas e físicas. Posteriormente, foram transferidos para outras prisões, entre as quais a de Wronki, em que nem sempre puderam permanecer juntos. Ainda assim, encontravam modos de manter-se espiritualmente unidos.

Após longos meses de sofrimento, retornaram a Poznań, onde foram formalmente julgados sob a falsa acusação de alta traição. A sentença foi implacável: pena de morte. Em 24 de agosto de 1942, foram martirizados em Dresden, fielmente abraçando o testemunho de Cristo, como mártires da fé e da resistência cristã ao totalitarismo nazista.

A espiritualidade salesiana no cárcere

Mesmo diante da prisão e das humilhações, os jovens não perderam o sentido profundo de sua vocação cristã. Viviam o cotidiano carcerário com fé ardente e inspirada na espiritualidade salesiana. Recitavam o rosário, promoviam novenas a Dom Bosco e a Maria Auxiliadora, e nunca deixavam de iniciar e concluir seus dias com orações comunitárias, sempre que possível. O espírito de Dom Bosco — marcado pela alegria, pela confiança na Providência e pelo amor à juventude — animava aqueles jovens em suas celas.

Além disso, escreviam cartas e bilhetes escondidos às suas famílias, pedindo orações e oferecendo consolo espiritual. Uma das mensagens de Franciszek Kesy, por exemplo, revela um profundo exame de consciência e uma sincera conversão interior: “Prometi viver de maneira diferente, como recomendou Dom Bosco, viver para agradar ao Senhor e à sua Mãe Maria Santíssima.” Em tempos de dor, reafirmaram sua fé e sua escolha por Cristo, até o martírio.

Perfis de santidade

A santidade desses jovens não se manifesta apenas no momento da morte, mas na coerência com que viveram sua fé desde a juventude.

Franciszek Kesy, nascido em Berlim em 1920 e criado em Poznań, era um jovem sensível, alegre e comprometido com os valores cristãos. Aspirava ao seminário menor dos salesianos e mesmo após ser impedido de estudar devido à guerra, permaneceu ativo no oratório local, onde se dedicava aos outros com entusiasmo.

Edward Klinik, nascido em 1919, era inicialmente tímido, mas floresceu no ambiente do oratório. Estudioso, metódico e profundamente comprometido com suas responsabilidades, destacava-se por sua maturidade e zelo apostólico.

Jarogniew Wojciechowski, de 1922, era introspectivo e reflexivo. Animava os outros com seu bom humor e comprometimento. Buscava compreender os acontecimentos com profundidade, e sua presença era fonte de equilíbrio e esperança.

Czesław Jóźwiak, nascido também em 1919, era impetuoso, mas sinceramente dedicado à busca da perfeição cristã. Um companheiro de prisão o descreveu como alguém com “uma alma como um cristal”, puro e devoto, mesmo em meio à brutalidade do cárcere.

Por fim, Edward Kaźmierski, também de 1919, era prudente, discreto e talentoso, especialmente na música. Em sua prisão, demonstrou caridade com todos, inclusive com aqueles que o perseguiam, mostrando que o perdão e o amor ao próximo são expressões superiores de santidade.

O reconhecimento da Igreja

O testemunho desses jovens não passou despercebido. Em 26 de março de 1999, o Papa João Paulo II — também polonês e profundamente tocado pela memória dos mártires do século XX — aprovou o decreto de martírio. Poucos meses depois, em 12 de junho de 1999, os cinco jovens foram beatificados durante uma visita papal a Varsóvia, tornando-se símbolos vivos de resistência espiritual e fidelidade evangélica diante da barbárie.

Na homilia de sua beatificação, João Paulo II destacou que o sacrifício desses jovens é um chamado a toda a juventude cristã para viver com autenticidade, coragem e fé inquebrantável. São modelos de santidade juvenil, profundamente enraizados no carisma salesiano, e exemplos vivos de que a graça de Deus se manifesta mesmo nas circunstâncias mais sombrias da história.

Reflexão final

O martírio dos jovens salesianos de Poznań nos obriga a refletir sobre o papel da fé em tempos de crise. Em um mundo frequentemente marcado pela indiferença e pela superficialidade espiritual, o exemplo desses jovens poloneses nos convida a redescobrir o valor do testemunho cristão, da oração constante, da comunhão fraterna e do perdão até o fim.

Que sua memória seja um sinal de esperança para os que ainda hoje sofrem perseguição por sua fé. Que seu exemplo inspire novas gerações a viverem com integridade, liberdade interior e confiança em Deus. Como nos ensina a espiritualidade de Dom Bosco, a santidade é possível para todos — especialmente para os jovens — e floresce quando vivida com alegria, amor e fidelidade.

Referências bibliográficas:

  • Salesianos de Dom Bosco. Beatos Mártires de Poznań. Roma: Editrice SDB, 2001.

  • João Paulo II. Homilia da Beatificação dos Mártires de Poznań. Varsóvia, 12 de junho de 1999.

  • Fabris, Rinaldo. Martírio e Testemunho Cristão. São Paulo: Paulinas, 2005.

  • Faggioli, Massimo. Catholicism and Citizenship: Political Cultures of the Church in the 21st Century. Collegeville: Liturgical Press, 2017.

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