Filho de camponeses, Nicolau nasceu em 1417 na pequena localidade de Flüe, no atual território da Suíça. Seu nome, portanto, deriva de sua terra natal: Nicolau de Flüe. Desde cedo, demonstrou uma profunda espiritualidade, apesar de nunca ter aprendido a ler e a escrever. Seu carisma e sabedoria natural fizeram com que fosse reconhecido como um dos grandes místicos da Igreja Católica.

Entre 1440 e 1444, Nicolau serviu como soldado e, posteriormente, oficial militar nas guerras travadas pelos confederados suíços contra os Habsburgos. Demonstrou bravura no campo de batalha, mas essa experiência também aprofundou sua reflexão sobre a transitoriedade da vida e a busca pela paz. Após o período militar, casou-se com Doroteia Wyss, com quem teve dez filhos, desempenhando seu papel como pai e chefe de família.

O Chamado para a Vida Espiritual

Apesar de suas responsabilidades familiares e sociais, Nicolau sentia um chamado profundo para uma vida de entrega total a Deus. Ele descrevia essa voz interior como uma “lima que aperfeiçoa e aguilhão que estimula”, sinalizando o impulso constante para a santidade. Por 20 anos, permaneceu ao lado da família, sustentando-os e cumprindo suas obrigações, mas sem jamais apagar o desejo de maior intimidade com Deus.

Por fim, sentiu-se impelido a renunciar ao mundo. Para isso, pediu três graças ao Senhor:

1. O consentimento de sua esposa e filhos para partir;
2. A ausência de tentação de voltar;
3. A capacidade de sobreviver sem alimento nem bebida, sustentado apenas pela Eucaristia.

Com a permissão de sua família, Nicolau deixou sua casa por volta de 1467 e buscou refúgio na vida eremítica.

Retiro em Ranft: A Vida de Penitência e Oração

Embora inicialmente pretendesse se juntar a uma comunidade monástica na Alsácia, não chegou muito longe. Estabeleceu-se em Ranft, um local isolado e íngreme, a poucos quilômetros de sua casa. Ali, construiu uma cela de madeira, onde viveu em total austeridade pelos 20 anos seguintes.

Vestindo roupas rudimentares, andando descalço e dedicando-se à oração incessante, Nicolau se alimentava exclusivamente da Eucaristia, um fenômeno que atraiu curiosidade e admiração. Sua escolha extrema despertou o interesse de muitas pessoas, que vinham de diversas partes para ouvi-lo. Sua fama cresceu e logo passou a ser chamado de Bruder Klaus (Irmão Klaus), tornando-se um conselheiro espiritual respeitado.

Pregador da Paz e Mediador Político

Apesar de seu desejo de solidão, Nicolau nunca recusava aqueles que buscavam sua orientação. Ele acolhia peregrinos, camponeses, nobres e líderes políticos, transmitindo uma mensagem de paz e reconciliação baseada no Evangelho. Seu lema era claro: “Em todas as coisas, a misericórdia é maior que a justiça”.

Seu papel na política suíça foi fundamental. Em 1481, um grave conflito ameaçava a unidade da Confederação Suíça. As tensões entre os cantões rurais e urbanos estavam à beira de uma guerra civil. Diante desse impasse, Nicolau foi procurado para intervir. Sua influência junto à Assembleia de Stans foi decisiva para evitar o confronto e garantir um acordo pacífico entre as partes. Por esse feito, é lembrado como um dos grandes pacificadores da Suíça e até hoje é reverenciado como o “Pai da Pátria”.

Morte e Canonização

Após duas décadas de vida reclusa, Nicolau de Flüe faleceu em sua cela em 21 de março de 1487, no dia em que completava 70 anos. Sua santidade e legado o tornaram uma figura venerada na Suíça e além de suas fronteiras. Em 1947, o Papa Pio XII o canonizou, reconhecendo sua influência não apenas religiosa, mas também social e política.

A Oração de São Nicolau de Flüe

A profunda espiritualidade de Nicolau se reflete em sua oração mais conhecida, preservada na tradição da Igreja:

“Meu Senhor e meu Deus, afastai de mim tudo o que me distancia de Vós! Meu Senhor e meu Deus, concedei-me tudo o que possa me aproximar de Vós! Meu Senhor e meu Deus, livrai-me de mim mesmo e permiti-me viver sempre na Vossa presença!”

Que sua vida continue a inspirar aqueles que buscam uma relação mais profunda com Deus e a verdadeira paz.

Referências Bibliográficas

• FÄSSLER, Ignaz. Bruder Klaus: Der Schweizer Nationalheilige. Freiburg: Herder, 1987.
• LEUBA, Jean. Saint Nicolas de Flue et son Temps. Paris: Editions Universitaires, 1953.
• VON ALLMEN, Jean-Jacques. Nicolas de Flüe: Mystique et Homme de Paix. Lausanne: Presses Universitaires Suisses, 1995.