A história da Igreja primitiva é marcada por testemunhos de fé inabalável diante da perseguição. Entre os inúmeros mártires que selaram sua fidelidade a Cristo com o próprio sangue, encontra-se São Benjamin, um jovem diácono persa cuja vida foi interrompida por sua recusa em negar a fé cristã. Seu martírio, ocorrido no século V, revela a tensão entre o cristianismo emergente e as religiões tradicionais do Império Sassânida, especialmente o zoroastrismo.
Origens e vocação
São Benjamim nasceu na Pérsia em 394, período em que o cristianismo ainda enfrenta desafios constantes no Oriente. Evangelizado em sua juventude, logo se destacou por seu zelo apostólico e desejo de servir à Igreja. Sentindo-se chamado ao ministério diaconal, dedicou-se à pregação e ao serviço aos fieis, seguindo o exemplo dos primeiros diáconos cristãos, como Santo Estêvão.
O versículo de São Paulo aos Filipenses — “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho” (Fl 1,21) — parece ter sido o lema da sua curta, mas intensa, jornada de fé. Assim como os primeiros cristãos, Benjamin viveu num contexto de perseguições, mas seu compromisso com o Evangelho nunca vacilou.
A perseguição aos cristãos na Pérsia
O século V foi um período turbulento para os cristãos persas. O rei Isdigerdes I (reinou de 399 a 420), embora inicialmente tolerante, mudou de postura e iniciou uma perseguição implacável contra os seguidores de Cristo. Seu sucessor, Bahram V, intensificou ainda mais a repressão. O motivo era, em parte, político: os persas viam o cristianismo com desconfiança por sua associação com o Império Romano, seu rival histórico.
A perseguição durou cerca de três anos e teve como alvo bispos, sacerdotes e fiéis que se recusavam a adorar as divindades persas. Entre as vítimas desse período de repressão estava Benjamim, cuja pregação eloquente e crescente influência chamaram a atenção do governo.
O encarceramento e a resistência
Denunciado às autoridades por sua atividade missionária, Benjamim foi espancado e preso. Durante um ano, permaneceu encarcerado, dedicando-se à oração, à meditação e, segundo relatos, à escrita. Embora suas obras não tenham chegado até nós, seu testemunho ficou gravado na memória cristã.
Durante esse período, negociações políticas ocorriam entre o Império Romano e a Pérsia para restaurar a paz. Um embaixador romano intercedeu por sua libertação, e Bahram V aceitou soltá-lo, desde que ele prometesse abandonar a pregação do Evangelho. O diácono, porém, respondeu com firmeza que jamais poderia negar a Cristo ou deixar de anunciar a salvação. Mesmo assim, foi libertado sob a fiança do embaixador.
O retorno ao ministério e os milagres
Após sua libertação, Benjamin retomou imediatamente sua missão, sem temor das represálias. Relatos da tradição afirmam que Deus confirmou seu ministério com sinais prodigiosos: cegos passaram a enxergar, leprosos foram curados e muitos se converteram por meio de sua pregação.
Entretanto, sua ousadia logo chegou aos ouvidos do rei Bahram V. Indignado com sua desobediência, o monarca ordenou sua captura.
O confronto com o rei
Diante do rei, Benjamim foi desafiado a renegar sua fé e prestar culto ao sol e ao fogo, símbolos centrais do zoroastrismo. Sua resposta foi firme:
“Faz de mim o que quiseres, mas eu nunca renegaria o Criador do Céu e da Terra para prestar culto a criaturas perecíveis.”
O rei insistiu, tentando persuadi-lo a abandonar sua missão. No entanto, Benjamin, demonstrando coragem singular, respondeu ao soberano com uma analogia incisiva:
“Que juízo farias de um súdito que prestasse a outros senhores a fidelidade que te é devida a ti?”
Sua resposta irritou profundamente Bahram V, que decidiu submetê-lo a torturas brutais.
O martírio: farpas e empalação
Em praça pública, Benjamim foi submetido a suplícios terríveis. Pequenas farpas eram enfiadas debaixo de suas unhas e em outras partes sensíveis do corpo, numa tentativa de fazê-lo negar sua fé. Mesmo em meio à dor intensa, ele permaneceu inabalável.
Diante de sua resistência, os carrascos recorreram a um castigo ainda mais cruel: a empalação. Este método de execução, amplamente utilizado pelos persas, consistia em atravessar lentamente o corpo da vítima com uma estaca. São Benjamim morreu por volta do ano 424, testemunhando sua fidelidade a Cristo até o último suspiro.
O legado de São Benjamim
O martírio de São Benjamim não foi em vão. Sua história se espalhou entre os cristãos da época, fortalecendo a fé daqueles que ainda enfrentavam perseguições. Sua memória foi preservada tanto no Ocidente quanto no Oriente, sendo venerado como exemplo de coragem e fidelidade ao Evangelho.
Na tradição cristã, seu testemunho nos lembra que a fé verdadeira não se submete a pressões políticas ou sociais. Como outros mártires, sua vida ecoa as palavras de Tertuliano:
“O sangue dos mártires é a semente dos cristãos.”
São Benjamim hoje
A memória de São Benjamim continua viva na Igreja. Ele é considerado padroeiro dos diáconos missionários e exemplo de fervor apostólico. Sua festa litúrgica é celebrada em 31 de março.
Nos tempos atuais, sua história ressoa como um lembrete do valor da liberdade religiosa e da fidelidade ao chamado de Deus, independentemente das circunstâncias adversas.
Minha oração
“Senhor Jesus, aos 30 anos, Benjamim teve a coragem de sofrer e morrer por Ti. Dá-me essa graça, se preciso for. Amém.”
São Benjamim, rogai por nós!