Santo do Dia

Santa Maria Bernarda: a primeira santa da Suíça

A história da Igreja é marcada por homens e mulheres que, respondendo ao chamado de Deus, deixaram tudo para anunciar o Evangelho nas regiões mais desafiadoras do mundo. Uma dessas figuras é Santa Maria Bernarda Bütler, a primeira santa da Suíça, cujo testemunho de vida continua a inspirar fiéis, religiosos e religiosas comprometidos com a missão evangelizadora da Igreja. Sua trajetória, profundamente enraizada na espiritualidade franciscana, revela a força do carisma missionário diante das dificuldades culturais, políticas e espirituais dos séculos XIX e XX.

Primeiros anos de fé: da Suíça ao convento

Maria Bernarda nasceu como Verena Bütler, em 28 de maio de 1848, na pequena vila de Auw, no cantão de Aargau, Suíça. Era a quarta filha de uma família numerosa e profundamente católica, formada por Henrique e Catarina Bütler. Desde cedo, Verena demonstrou uma simples e intensa, própria da piedade popular de seu tempo. Batizada no mesmo dia do nascimento, iniciou seus estudos aos sete anos e recebeu a Primeira Comunhão aos doze, evento marcante em sua espiritualidade nascente.

Durante a juventude, viveu um breve relacionamento afetivo com um jovem trabalhador. No entanto, o chamado à vida religiosa falou mais alto. Assim como muitas outras mulheres do século XIX que percebiam em sua vocação uma missão mais ampla que o casamento, ela rompeu esse vínculo e, aos 19 anos, ingressou no Convento de Maria Auxiliadora em Altstätten, ligando-se à Terceira Ordem Regular de São Francisco.

A vida consagrada e o despertar missionário

No convento, Verena assumiu o nome de Irmã Maria Bernarda e passou a se dedicar com fervor à oração, à penitência e às obras de caridade. Sua consagração não se limitou à vida contemplativa. Com o tempo, sua alma missionária foi sendo despertada para horizontes mais amplos, especialmente diante das dificuldades enfrentadas por comunidades católicas em outras partes do mundo.

Foi nesse contexto que chegou ao convento uma carta de Dom Pietro Schumacher, bispo de Portoviejo, no Equador. Ele relatava a escassez de religiosos e religiosas em sua diocese e pedia ajuda para atender às necessidades espirituais e sociais da população. Irmã Maria Bernarda viu nesse pedido uma resposta concreta ao seu anseio de servir a Igreja de forma mais radical.

Com coragem, desprendimento e fé, ela partiu para o Equador em 1888, acompanhada de seis irmãs. Assim se iniciava uma nova fase de sua vida: o tempo da missão.

Uma nova fundação: a congregação missionária

Em terras equatorianas, Maria Bernarda fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora, dedicada à evangelização, à educação e à promoção humana das populações mais necessitadas. A missão era guiada pelas obras de misericórdia, que se tornaram a base da ação apostólica das irmãs.

Como fundadora, Maria Bernarda enfrentou grandes desafios: clima hostil, doenças tropicais, pobreza extrema e até resistência cultural à presença das religiosas europeias. Mesmo assim, perseverou com fé e humildade. Sua espiritualidade era centrada em Cristo crucificado, e seu carisma, profundamente eclesial e mariano, nutria a convicção de que toda vida missionária é extensão do amor de Deus pela humanidade.

Perseguições e novo recomeço

No entanto, nem tudo era luz na missão. A partir de 1895, a situação política do Equador tornou-se instável. Um forte movimento de perseguição à Igreja Católica levou ao fechamento de instituições religiosas, expulsão de missionários e confiscos. As irmãs foram obrigadas a deixar o país, e Maria Bernarda conduziu suas companheiras para Cartagena das Índias, na Colômbia, onde foram acolhidas por Dom Eugênio Biffi, arcebispo da cidade.

A vida em Cartagena não foi menos desafiadora. As irmãs enfrentaram a pobreza e a resistência de alguns setores, mas aos poucos a obra missionária floresceu novamente. Durante 36 anos, Maria Bernarda viveu fora de sua terra natal. Mesmo assim, seu coração permaneceu aberto ao mundo: a congregação se expandiu para outras partes da América Latina, Europa e Brasil, onde chegaram em 1911.

Reconhecimento de santidade

Ao longo de sua vida, Maria Bernarda demonstrou virtudes heroicas: paciência nas provações, amor incondicional aos pobres, firmeza na fé e capacidade de liderança espiritual. Sua fama de santidade cresceu ainda em vida, mas foi especialmente após sua morte, em 19 de maio de 1924, que se consolidou no coração do povo.

Na manhã de seu falecimento, o pároco local anunciou com simplicidade e reverência: “Hoje faleceu uma santa”. Essa declaração ressoou por anos, ecoando a convicção popular de que Maria Bernarda já habitava os céus, junto de Aquele a quem consagrou sua existência.

Seu processo de canonização foi iniciado em 1949, e em 29 de outubro de 1995, ela foi beatificada pelo Papa João Paulo II. Mais tarde, em 12 de outubro de 2008, foi canonizada pelo Papa Bento XVI, tornando-se oficialmente Santa Maria Bernarda.

Legado espiritual e pastoral

Hoje, o legado de Santa Maria Bernarda ultrapassa fronteiras. Seu exemplo inspira milhares de pessoas a viverem com coragem, generosidade e fé profunda. Sua vida nos recorda que a santidade não é um privilégio de alguns, mas uma vocação de todos os batizados, como destaca o Concílio Vaticano II (cf. Lumen Gentium, 39-42).

Além disso, sua fundação, as Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria Auxiliadora, continuam atuando em diversas frentes pastorais, levando educação, saúde e assistência espiritual a comunidades empobrecidas, em perfeita consonância com a opção preferencial pelos pobres defendida pelo magistério da Igreja contemporânea, especialmente a partir de Evangelii Nuntiandi (Paulo VI) e Evangelii Gaudium (Papa Francisco).

Oração e devoção popular

A devoção à santa é viva em muitos lugares. Fiéis a invocam em momentos de aflição, doenças, conflitos familiares e incertezas vocacionais. A oração tradicional a ela invoca saúde, paz, união familiar e sustento — reflexo de sua missão concreta junto aos pobres e necessitados.

Santa Maria Bernarda,

que estais tão perto de Deus,

sede nossa protetora na terra

e nossa intercessora no Céu.

Alcançai-nos a graça da saúde,

da paz e da concórdia.

Que em nossa família nunca falte

a união, o amor, o trabalho digno

e o alimento necessário.

Amém.

Uma vida para a missão

A vida de Santa Maria Bernarda é um testemunho eloquente de como a fidelidade a Cristo pode transformar realidades. Sua coragem missionária, seu zelo pastoral e sua profunda espiritualidade fazem dela não apenas a primeira santa suíça, mas uma figura universal da Igreja em saída, tão querida pelo Papa Francisco.

Como afirmou o teólogo suíço Hans Urs von Balthasar, “a glória de Deus é o ser humano plenamente vivo”. Santa Maria Bernarda, com sua vida consumida pelo Evangelho, é prova viva dessa glória.



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